domingo, 16 de junho de 2013

A Ambivalência do Engajamento Transpolítico na Modernidade Líquida

Sempre é importante para a reflexão-crítica pensar a partir da paisagem social e política no quadro da temporalidade de nosso mundo. Assim, para tecer palavras sobre os movimentos de jovens que marcam um "novo modo de produção de engajamento" é - fundamental - contextualizar a paisagem. Trata-se de jovens constituídos em "modernidade líquida", onde os laços são sempre frágeis e a insegurança é a regra geral. Nessa paisagem o mercado é total, totalizante e totalitário com espaços diminutos para a cidadania, pois há a espetacularização da vida e a concentração do social  nas telas publicitárias. Dessa forma, a ambivalência do engajamento está , por um lado, na crescente necessidade moderna de manifestação política e, por outro, na  realização da ação como ato frágil e solitário. 
O que os diferencia dos "jovens de Maio de 68" ?  Efetivamente, os jovens em acelerada modernidade líquida atuam sobre uma cultura política esbatida pela publicidade, não há um grau intenso de politização, a crítica traduz parte do discurso conservador midiático  [discurso contra a corrupção e postura anti-partidária]e fragmentos de radicalismo social. E a participação é muito próxima da ideia de correr numa "maratona", ou seja, estar ali correndo sozinho na massa é o suficiente. O hiperindividualismo moderno carrega consigo o "transpolítico" - algo que tangencia a política sem produzir efeitos transformadores. Do contrário - Maio de 68 - produziu uma expansão da dimensão política [liberdade do corpo como ato de rebeldia frente à "Sociedade Disciplinar"] articulada à Filosofia Política Crítica de Marcuse e Sartre e a participação no campo da representação social e política. Não eram indivíduos insatisfeitos, mas grupos sociais juvenis desejando revolução.
De fato, a ambivalência presente no engajamento desses jovens corresponde à perversidade de nossa paisagem. Em tempo esgotado de cidadania, em que o mercado é tudo [até mesmo política], sobra muito pouco espaço para a transformação. 

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