sexta-feira, 31 de maio de 2013

Por uma Economia Política do Mercado Escolar

Nossa sociedade moderna tem como característica importante a reprodução do mundo de mercado - na escola não é diferente. Quando a educação passou à esfera pública e universal os problemas da desigualdade entre classes, presentes no mercado do capital, também produziram desdobramentos no espaço de ensino com o "fracasso" escolar". Assim, da mesma forma que o discurso conservador sempre responsabilizou os pobres pela pobreza; na escola também os pobres são responsabilizados por seu resultado negativo, pois o desempenho escolar é sempre imaginado como resultado de esforço individual do próprio discente. Como os resultados escolares sempre foram mais favoráveis aos estudantes de classe superior a escolaridade moderna, com isto, corrobora a dominação de classe. Em contexto de mercado é preciso erigir uma Economia Política do próprio fazer-escolar, ou seja, pensar o processo de ensino e aprendizagem como distribuição de saberes no conjunto da sociedade, enfim, como riqueza social. Na tradição da pedagogia crítica é consenso a ideia de Paulo Freire: "ninguém educa ninguém, ninguém educa  a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo"; de fato, a individualização do saber é apenas simulacro ideológico de dominação da classe superior sobre a inferior, pois o saber é social e político.
Por uma Economia Política do Mercado Escolar deve partir do conceito de "capital cultural" - trata-se de pensar  a cultura e a educação no sacrossanto mundo do capital e, assim, perceber que os saberes modernos da escola e da produção capitalista estão concentrados, em parte considerável, na classe superior. É o que os torna superiores na vida social, política e escolar. Tal como Marx que "descobriu" o segredo do capital, a mais-valia como lógica da exploração burguesa, retirando todas as fantasias ideológicas centradas na ética protestante como resultado do "sucesso" individual; Pierre Bourdieu "descobriu" o capital cultural (saber-poder) que esconde o segredo do "sucesso" escolar burguês, centrado na ideologia da inteligência como dom individual e natural. Consoante Pierre Bourdieu: "[...] os homens de cultura devem suas mais puras fruições culturais à amnésia da gênese que lhes permite viver sua cultura como dom da natureza". A questão incontornável da pedagogia crítica está exatamente no núcleo da dominação de classe, em poucas palavras, na desnaturalização do mercado do capital. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Por uma Economia Política da Cultura-Mundo


Quando pensamos sobre a Cultura-Mundo, ou seja, na mundialização [ou globalização] da cultura imediata é importante problematizá-la no campo da própria economia política. Assim, discorrer acerca do conceito de Gilles Lipovetsky: "[...] a cultura-mundo é a do indivíduo diante de si mesmo, sem rede de proteção, obrigado a se autocriar"; que corresponde à uma forte angustia sartriana, sublinha um equivalente muito próximo do processo de criação moderna do trabalhador livre - corpo isolado dos meios de reprodução de si, obrigado a se autocriar como sujeito e proletário. De fato, a liberdade na modernidade, além do caráter emancipatório e político, também representa uma enorme angustia na forma em que ela se estabelece para os sujeitos. Na modernidade somos todos livres, mas antes de tudo, amiúde expropriados dos meios de existência da própria liberdade. Eis o Paradoxo político que silenciosamente esvazia nossa resistência transformando-nos em produtores e consumidores de mercadorias...









Micro-Ensaios da Guerra Pura: a resistência política na hipermodernidade


O conceito de "micro-ensaio" devo ao meu amigo e historiador Ricardo Fitz, quando lhe mostrei um breve texto escrito por mim na página do facebook, logo me sugeriu apurar no estilo. Particularmente tenho uma nostalgia pelo estilo "ensaio" que dominava os intelectuais até os anos 50 do século XX. Contudo, vivemos numa outra temporalidade, numa modernidade que tritura a vida social e o próprio pensamento, assim o ensaio somente se faz profundo, na contemporaneidade, quando na superfície cultural assume o corpo de micro-narrativa. Espero contemplar meus leitores.
Qual é a razão de "Micro-Ensaios da Guerra Pura" ? A ideia é de esboçar pequenos ensaios acerca de nosso contexto imediato, o conceito de "guerra pura" inspirado em Paul Virilio corresponde à percepção crítica da crescente militarização posta em nosso cotidiano. O uso de armamento militar [de guerra] por civis, as câmeras de vigilância, a insegurança total, as telas [de todos os tamanhos] que cativam nosso olhar, o poder destruidor do capital e a incerteza social que antes pairava apenas no campo de batalha corroboram a existência de uma guerra esvaziada ideologicamente de sentido militar, mas - absolutamente - transbordada de belicosidade. A "guerra pura" é a guerra que se faz - ordinariamente - num clima de aparência de paz.
Para finalizar, "a resistência política na hipermodernidade" posta-se como tomada de posição política em tempos de esgotamento da própria política. As mídias e a publicidade deslocaram o debate político do espaço público para as máquinas de visão; o que vem provocando o esbatimento da política em benefício da espetacularização da opinião publicitária. Sendo assim, penso que a resistência no interior das próprias telas -  no ecrã - mostra-se como perspectiva de luta política possível - embora muito frágil.