A mídia tradicional está em crise. Trata-se de crise estrutural. Em tempos de múltiplos meios de acesso e de inflação de informação o suporte convencional de construção e controle da informação mostra-se pouco eficiente no campo econômico e político. A venda recente do jornal americano Washington Post ( de 135 anos de existência) por valor pelo menos dez vezes inferior ao seu capital de mercado - 250 milhões de dólares - é emblemática. É a nova burguesia do virtual (proprietário da Amazon) solapando o paradigmático "Cidadão Kane" - imagem fílmica do poder da mídia tradicional.
O esbatimento econômico da mídia moderna traduz a incapacidade ou, quiçá, a inviabilidade de inserção da informação disciplinar num contexto de explosão da informação proporcionada pelos micro-aparelhos de comunicação pessoal numa infinidade de redes. E é exatamente essa transformação tecnológica que viabiliza a explosão da informação e arrasta as mídias corporativas para uma crise de credibilidade - sem precedentes - da própria informação tradicional, em poucas palavras, a poder da mídia-empresa está nu e não há mais possibilidade de retorno.
Sem dúvida, o poder está nu, mas não está ausente. A mídia continua sendo antes instrumento de criação do que registro de realidade - constatação importante já posta por Pierre Bourdieu. Os protestos de junho no Brasil foram apropriados apressadamente pelas mídias corporativas. Contudo, a
resistência dos manifestantes à presença dos jornalistas corporativos e a emergência da própria mídia dos manifestantes [NINJA - Narrativas Independentes - Jornalismo e Ação] evidencia a crise de território antes de ocupação exclusiva da mídia-empresa.
O território da informação hoje é contestado numa época de explosão de informação - o que não representa necessariamente a imediata democratização da representação informacional do acontecimento. No virtual, não há espaço seguro. Dessa forma, o movimento político progressista que objetiva regular a informação, para não se tornar anacrônico, precisa antes democratizar o acesso social e popular aos meios de comunicação do contrário - como disse Paul Virilio - depois da dissuasão nuclear estaremos diante de dissuasão da informação absoluta. Esmagados pelas corporações midiáticas, por um lado e por outro, pelas mídias pulverizadas e anárquicas - numa guerra de informação onde o resultado sempre será zero.