David
Harvey aponta uma importante distinção entre a mentalidade social moderna e pós-moderna
que pode servir como mote explicativo para o entendimento do medo político que
paira no imaginário da Direita brasileira. A modernidade caracteriza-se pela paranoia, ou seja, o descolamento da realidade com o excesso de suspeitas que
se avolumam e proporcionam surtos persecutórios estruturados em bases lógicas. Em
síntese, a paranoia é o absurdo exagero da realidade. Nos anos 50 e 60 a paranoia anticomunista inaugura – de fato – a Direita moderna brasileira como fenômeno
de rua que se traduzia na fobia da ameaça à ordem cristã e à propriedade
privada da qual logicamente representava o Governo João Goulart. Isto é tão
evidente quando nos reportamos as imagens de poder apresentadas nos jornais da
época. A paranoia estava exatamente no exagero do perigo vermelho, pois naquele
contexto o comunismo internacional impunha-se como fato político [Guerra Fria].
Portanto, partia-se de uma realidade e de uma lógica relativamente palpável. Hoje
sabemos que o perigo comunista era antes verossímil do que verdadeiro. A fraca
reação da esquerda à derrubada de Goulart é esclarecedora. O Gigante Acordou
antes como paranoia do que realidade política.

Na pós-modernidade é a
esquizofrenia que mobiliza a mentalidade social. Trata-se de dissociação e
dissintonia das funções psíquicas que fomenta a fragmentação da personalidade e
a perda do contado com a realidade do mundo social. Estamos no século XXI o
Socialismo Real nem agoniza mais, pois efetivamente não faz parte do mundo
político desde 1991 com o fim da URSS. Entretanto, ainda se posta além do
espectro político para a Nova Direita brasileira. Ao contrário da paranóia
anticomunista, a esquizofrenia anticomunista não exagera na realidade, visto
que não há realidade alguma. As tradições modernas estão volatilizando-se e o
medo anticomunista revela a ausência de roupagem ideológica da Nova Direita
frente à revolução molecular cotidiana que torna explícito o poder tradicional
das elites de toda a ordem. O Gigante Acordou, nas manifestações de Junho de
2013, contudo não há relação entre a realidade concreta e o imaginário político
apresentado pela Nova Direita. Não há consciência política, apenas há o
inconsciente evocando seus fantasmas.
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