O pensamento político de Direita é universal e empolga
a dupla revolução moderna, na forma de produzir [Revolução Industrial] e nas
relações de poder [Revolução Francesa]. Diante do solapamento revolucionário
das estruturas feudais engendrou-se uma postura política moderna que consiste
em conservar o poder nas mãos da vanguarda industrial-burguesa. Em substância. trata-se de
visão negativa do homem e da sociedade [natureza imutável], da defesa da
tradição e de restrição da igualdade à lei e à formalidade. Há também a concepção
da sociedade a bloco unívoco sem contradições de gênero, de raça e de classe. A
função do Estado – em geral – corresponde essencialmente ao poder de manter a
segurança e de assegurar a propriedade privada. A liberdade é sempre do
indivíduo abstrato e isolado que no interior do mercado deve exercê-la no
limite de seus méritos pessoais. A desigualdade social infere-se como fruto da
natureza humana que pode ser corrigida com a suspensão de qualquer modelo de auxílio
social [medida artificial e perniciosa] e a positiva pressão do mundo do mercado
sobre os indivíduos.
Há na política sempre
elemento cultural e histórico que regionaliza as práticas de poder. A
especificidade da Direita brasileira está – sem dúvida – no tardio
estabelecimento do contraponto político advindo do proletariado moderno e do
jacobinismo igualitário que no choque político proporcionou – nas nações
avançadas – o equilíbrio importante para o nascimento das democracias liberais modernas.
Aqui – por exclusão da maioria da população do campo político – a democracia
por um longo tempo sempre foi um simulacro de modernidade. O Brasil nasce em
1822 no calor da dupla revolução, mas independentemente das forças
revolucionárias modernas o pensamento político dominante no país foi o de
adaptação elitista do moderno às estruturas de poder tradicional. Não há povo
como realidade política. Assim, a latifúndio e a escravidão mantiveram-se como
fenômeno que indicia o elitismo brasileiro impregnado nas instituições e que marca
a desigualdade como o imenso atraso do Brasil. Ainda hoje a escravidão e o
latifúndio estão, sob o véu da modernidade, presentes na matriz das
desigualdades de toda a ordem no país [trabalho doméstico sem garantias
modernas, trabalho infantil, trabalho escravo não são meros acidentes]. Dessa
forma, no discurso político da Direita brasileira não há qualquer oposição
entre desigualdade social e modernidade econômica. Há
no imaginário político da Direita o medo da alteração da ordem social
engendrada pelo mercado e que naturalmente empurra os indivíduos para a
prosperidade. A Direita brasileira pontua seu imaginário na naturalização das
desigualdades no país. Como os pobres no Brasil estão ainda ligados aos
desdobramentos do escravismo a saída ideológica consiste em negar qualquer
reparação histórica. Efetivamente, o fim do escravismo foi muito mais ato de
eliminação da vergonha das elites nacionais frente às nações liberais modernas
do que política ética de emancipação e integração dos afro-brasileiros. Na
caixa de pandora das elites políticas está o preconceito e a visão negativa
frente às massas empobrecidas.